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A Ocupação Suevo Visigótica

A vida útil e funcional neste povoado sofreu alguns revezes na fase terminal da presença romana, porque as estruturas da villa urbana entraram em declínio, o edifício foi abandonado ou foi destruído por motivos que não conseguimos ainda deslindar. Sobre os seus muros foi construído um novo edifício que se serviu de muita pedra da construção anterior tal como copiou, em certa medida, a tipologia anterior. A grande diferença está no facto das paredes da nova construção serem bastante mais rudimentares, feitas com argamassas de muito menor qualidade e o miolo preenchido com bocados de tegulae, de tijoleira e de pedra miúda. Por sua vez os pavimentos passaram a ser fabricados à base de barro amassado que incorporava muita pedra miúda e tegulae fragmentada, ao mesmo tempo que anteriores elementos arquitetónicos como capitéis e fustes de colunas foram incorporados nas paredes das novas construções. Tudo isto aconteceu numa altura em que povos de origem germânica, nomeadamente suevos e depois visigóticos se instalaram nesta parcela da antiga Gallaecia, substituindo-se à governação romana. Um deles, a fazer fé em Joseph M. Piel, estará na origem da onomástica da freguesia, que é Lovelhe, o qual bem pode ter sido o dono deste “palácio” do início da Alta Idade Média. Deste período, ou seja, da passagem do mundo romano para a administração suévica, há cerâmicas, umas importadas do norte de África (terra sigillata Clara D), outras da Ibéria, caso das sigillatas tardias hispânicas, às quais deveremos juntar as sigillatas tardias fabricadas em Braga (pastas cinzentas e vermelhas) e naturalmente a conta de brinco em ouro que ostenta uma típica decoração rendilhada de origem germânica. Coevas desta realidade são também muitas cerâmicas comuns, de pastas bem mais grosseiras, arenosas, com coloração castanho-escuro ou a tender para o creme e cujas formas são quase que exclusivamente de cozinha. A novidade está na tipologia da forma, quase sempre uma panela de pança mais ou menos rombóide, colo curto e quase retilíneo. Na generalidade são peças que exibem uma decoração simples, à base de um “vassourado” que preenche a superfície exterior numa disposição quase sempre vertical. São produções, que podem ser locais, mas que também aparecem noutros sítios com idênticas cronologias, na mesma parcela meridional da antiga Gallaecia. À medida que a administração sueva e depois visigótica cimentou a sua presença na região, nota-se que diminuíram os contactos com o exterior, nomeadamente com a bacia mediterrânica. A partir daqui a aridez de produtos exógenos é realmente um facto. As causas poderão estar relacionadas com as convulsões político-militares ocorridas na região oriental do mediterrâneo, quando os exércitos muçulmanos entraram num processo de conquista da Síria que então estava debaixo do domínio bizantino, mas também devido a reorientações internas. Convirá não esquecer que o Reino Suevo, com a morte do rei Miro (570-583), entrou em guerra civil e que a situação foi aproveitada pelo rei visigótico Leovigildo que invadiu a antiga Gallaecia e a incorporou no seu reino, no ano de 585. O declínio acentuou-se ao longo do século VII, pois o pouco que se conhece da ocupação do sítio aponta para a presença de construções cada vez mais frustres e para a ausência de cerâmicas importadas. As que há são de fabrico local e regional que cada vez mais se distanciam da esmerada qualidade técnica das cerâmicas romanas comuns, mesmo até daquelas que são genericamente designadas por comuns de pastas grosseiras. Por esta altura a atividade principal dos seus moradores já seria somente a agricultura, a pastorícia e naturalmente a pesca. Os contactos comerciais, esses estariam reduzidos ao mínimo, caso não fossem já totalmente inexistentes e quando os muçulmanos fizeram a primeira investida, o local despovoou-se em definitivo. Serão precisos alguns anos para que a primeira igreja de Lobelhe, sob a proteção de Santa Maria, seja construída num espaço contíguo ao muro exterior da Quinta do Forte, que hoje é parte integrante do INATEL. Vai passar a ser a sede de uma paróquia cujos moradores deixaram a periferia do rio para construir as suas casas mais para o aconchego dos montes, com o lugar da Breia à cabeça.

Texto adaptado de ALMEIDA, Carlos A.; RAMALHO, Paula; Memórias Arqueológicas do Forte de Lovelhe; 1985-2015; Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira; 2015.

Terra sigillatas bracarenses.
Estruturas suevo visigóticas
Cerâmicas "vassouradas".
Candela.
Complexo da forja
Terra sigillata bracarense.
Terra sigillata bracarense
fig 46
Conta suevo visigótica.
Prato
Forja
Estruturas suevo visigóticas.
Cálice.
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