A Villae Romana
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A partir de meados do séc. I, os moradores deste local, à semelhança de muitos outros castros que enveredaram pelo caminho da aculturação, abandonaram gradualmente o modo de vida tradicional. As mudanças nascidas com a Romanização não se fizeram sentir somente a nível de hábitos, de costumes, da adoção de novos modelos arquitetónicos, mas também no uso da moeda, da escrita romana e sobretudo nas diferentes formas de organizar e explorar o espaço agrícola.
Entre todas as mudanças, aquelas que são visualmente mais apelativas estão plasmadas nas alterações arquitetónicas. As casas de tipologia romana, de formato quadrado e ou retangular, inundaram a área já estudada do castro, mas com maior evidência no Sector A, onde as estruturas romanas aparecem claramente a sobrepor-se às casas circulares de tipologia e cronologia castrejas. Aproveitando a anterior organização do povoado indígena em patamares mais ou menos alargados e sustentados por muros, os moradores de época romana foram alterando a tipologia das habitações até que, no Baixo-império, ergueram um grande edifício, que podemos apelidar de villa ou mais especificamente, de uma domus urbana constituída por diversos compartimentos que acompanham a anterior disposição em patamares, conforme é visível em ambos os lados da antiga estrada do INATEL. Este edifício, que sucede a um outro, também romano, só que muito mal definido, data do século IV. Tem muros de grande dimensão e espessura, feitos com pedras de pequeno tamanho, dispostas em fiadas pseudo-isódomas. As pilastras das entradas foram feitas com grandes blocos retangulares almofadados. O chão estava revestido com pisos espessos feitos com opus signinum e tijoleira, enquanto nas entradas das portas havia soleiras de granito bem tratadas. Havia compartimentos onde os rodapés foram decorados com tesselae de cerâmica e entre os muitos vestígios que são típicos e usuais em edifícios desta dimensão, lá se encontraram os fustes, os capitéis de tipo toscano e mesmo uma grande taça de pedra que deve ter estado no impluvium da casa. A cobertura era feita com telhados de duas ou mais águas, com as telhas (tegulae e imbrices) assentes sobre grossas traves de madeira.
Relacionado com esta villa ou domus há uma enorme quantidade de cerâmicas importadas, nomeadamente ânforas, metais, vidros, moedas que justificam o seu grau de riqueza e a continuação de uma atividade comercial relacionada com o trânsito fluvial no rio Minho. Muito provavelmente os proprietários desta e de outras casas presentes na área do antigo castro e até das imediações, beneficiaram com a riqueza metalífera que havia na região, podendo mesmo ter funcionado como um entreposto onde chegavam as mercadorias provenientes de territórios mais meridionais, mesmo do mediterrâneo e partiam os produtos que a região produzia e podia transacionar com garantias de sucesso.
Texto adaptado de ALMEIDA, Carlos A.; RAMALHO, Paula; Memórias Arqueológicas do Forte de Lovelhe; 1985-2015; Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira; 2015.