O Castro
O Castro do final da Idade do Ferro é a ocupação mais antiga detetada. Não será anterior ao séc. II A.c. e ocupava a totalidade da elevação. Como o sítio não possuía defesas naturais, foi construído em toda a vertente oposta à margem do Minho um sistema de fosso. O posicionamento geográfico permitia que os seus habitantes vivessem da agricultura, do aproveitamento dos recursos hídricos, do intercâmbio comercial que a proximidade ao rio possibilitava .
Na área escavada foram já detetadas uma quinzena de casa circulares, construídas à base de pedra e barro e com cobertura vegetal. Eram dispostas em patamares e associadas a muros retilíneos entendidos como divisões entre as unidades familiares. Estas unidades familiares parecem, definirem-se em torno de um arruamento central. No interior dos núcleos habitacionais há alguns silos de formato circular, cavados no solo correspondendo a pontos de armazenamento, provavelmente de cereais. Surgem também, muitas das vezes no interior das casas lareiras, feitas de barro e saibro bem compactado. A elas associados surgem inúmeros fragmentos cerâmicos que revelam o seu uso culinário.
O desenvolvimento económico deste povoado sempre esteve muito ligado à sua localização geoestratégica e sobretudo ao rio. Foi através dele que produtos importados aqui chegaram. Muitos vinham da bacia mediterrânica, em barcos que enfrentavam as dificuldades do Atlântico e depois subiam o rio. Foi também de barco que aqui chegou a grande quantidade de ânforas, algumas itálicas, mas na sua grande maioria oriundas da zona do Guadalquivir, mas também do Sado e Tejo, de onde traziam vinho e seus derivados, conservas de peixe e azeite. Da Corunha, as cerâmicas comuns produzidas em Lugo. Em sentido contrário iam recursos naturais como o estanho e o ouro, este procurado no vale de Covas e ao longo das pequenas explorações que estão documentadas em ambas as margens do rio Minho.
Associados à longa diacronia da vida no castro há dois fornos circulares cavados no saibro do terraço fluvial. Sabemos pelos materiais a eles associados, que são estruturas relacionados com a obtenção de metal de ferro para depois ser transformado em forjas, levantando-se ainda a hipótese de aqui se trabalhar em bronze muito utilizado em objetos de adorno e até funcionais.
A economia local não passava sem a pesca fluvial e também, sem o fabrico de uma grande parte do vestuário que usavam, feito, sobretudo, de lã das ovelhas que podiam ser pastoreadas nas imediações do castro. De ambos há elementos suficientes no registo arqueológico. Da fiação falam os cossoiros de barro, da tecelagem, os pesos de tear. Da pesca há pesos de rede feitos a partir de uma matéria-prima aqui excecionalmente abundante: os seixos do terraço fluvial.
A vivência desta povoação, como unidade autónoma, mas aberta às influências vindas do mediterrâneo e da capital da Gallaecia meridional, que era Bracara Augusta, continuou durante uma boa parte do séc. I, mas na sua ponta final algo começou a mudar na estrutura interna do habitat, não tanto a nível da tipologia das suas habitações, mas mais acertadamente na sua cultura material.
Texto adaptado de ALMEIDA, Carlos A.; RAMALHO, Paula; Memórias Arqueológicas do Forte de Lovelhe; 1985-2015; Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira; 2015.
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