top of page

O Porto

O porto ou cais de acostagem foi descoberto aquando das intervenções arqueológicas realizadas no âmbito da construção da Ponte Internacional Cerveira – Goyan. A intervenção arqueológica pôs a descoberto uma estrutura formada por um extenso muro de pedra que estava apoiado por outros transversais, paralelos entre si e por um pavimento feito com seixos rolados e pedra pequena imbricada no saibro maleável que forma o solo geológico desta parte da margem do rio.

Face à sua orientação e localização este muro parecia ser, inicialmente, um suporte de terras, mas esta ideia foi rapidamente desmentida quando nos apercebemos que o talude ainda estava distante e que as terras que formavam a camada estratigráfica do lado oposto ao rio provinham de escorrimentos. Por outro lado, como elas também cobriam o pavimento que havia deste lado do muro, fácil é de concluir que ele funcionou como uma estrutura que estava liberta de terra. Face às características das estruturas ficavam em aberto duas hipóteses explicativas com diferentes graus de probabilidade: muro de proteção ou muro de cais de acostagem. A hipótese de tratar-se de uma parede construída com a finalidade de ser um obstáculo à subida da água é deveras aliciante só que ela levanta uma pergunta inevitável. Afinal o que é que se pretendia proteger? Foram tais dúvidas que originaram o alargamento da intervenção arqueológica, mas a sua conclusão, se não dissipou todas as dúvidas, permitiu ligar a sua existência a uma velha tradição popular local. Segundo ela, por estes lados do rio Minho, teria havido um pequeno cais de acostagem para os pequenos barcos do rio Minho, aqueles que se dedicam à pesca e também faziam a ligação entre as duas margens. Com ele podemos relacionar o caminho empedrado que foi inutilizado com a construção do muro do cemitério paroquial e provavelmente as diversas estruturas encontradas na margem do rio. A extensão do muro pode explicar a dimensão do possível cais de acostagem, tal como os muros transversais podem ter servido para apoiar uma estrutura de madeira, uma plataforma, por onde se pudesse circular e amarrar os barcos. A ser assim se explicaria o empedrado do chão, presente em ambos os lados do muro e que não tinha outra finalidade senão proteger o alicerce do muro sempre a água do rio subia de cota. Problema de monta é atribuir uma cronologia segura a esta estrutura, tanto mais que a estratigrafia não ajuda e tão pouco os materiais arqueológicos que aparecem descontextualizados. No entanto e fazendo uma seriação ficamos com uma cronologia tão lata quanto o tempo que medeia entre a ponta final da Idade do Ferro e a época moderna, mas a ajuizar pela maneira de construir o muro (M1) e comparando-os com os que fazem parte da villa suevo-visigótica, é possível que esta construção seja coeva daquela, embora não seja de excluir uma utilização em tempo cronológico mais tardio.

Texto adaptado de ALMEIDA, Carlos A.; RAMALHO, Paula; Memórias Arqueológicas do Forte de Lovelhe; 1985-2015; Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira; 2015.

O porto fluvial.
O porto durante a escavação.
Desenho de estruturas.
bottom of page